TROVÕES NA FRONTEIRA
Chegava o grande dia, o da recompensa à moda galopeira. De pé as 7h30, metade acordava de ressaca, metade no ponto da bala. Meu lábios estavam rachados da insolação das outras tardes, o sangue pingava e o pulso ainda pulsa. "Ok não viaja"!! Depois do café reforçado juntamos a coisa toda (que não era pouca), e partimos, já pelas 10h, em meio ao trânsito confuso. Disse o Hernán: "essa coisas tão simples demoram, no mínimo, 40 minutos". Jorge Colman nos aguardava do lado de lá com um pneu usado pra mim. Lentamente, quase que levando nossos veículos a pé, atravessamos a Ponte da Amizade. Ela é o que é, estreita, cercada por grades, muito movimentada e vigiada pela Polícia Federal do nosso lado e pelo Exército do outro. E embaixo dela passa o Rio Paraná. Sem demora tiramos a documentação aduaneira enquanto o Diego fazia o câmbio da moeda (Real x Guarani). Veio um soldado e me disse que tinha passado um pessoal numas Vespas a um pouco mais de uma hora. Era o Farid e o Coca, do Vesparaná Club. Nesse corredor de 500 metros dezenas de pessoas pulavam em cima da gente oferecendo serviços de câmbio, guia, despachos, e sabe-se lá o que mais. Quando finalmente estávamos prontos para a partida, em Ciudad del Este, notei dois rapazes sem capacetes numa moto de baixa cilindrada convencendo o João (que guiava o carro de apoio) a puxar a tropa e segui-los por um tal caminho alternativo, porque supostamente no quilômetro seguinte estava acontecendo uma passeata dos professores públicos. Cheguei do lado deles, comecei a rir e disse "você fala isso para todos né". Eram tremendos caras de pau levando um trocado desinformando turistas. Ok, ameaçamos segui-los, mas na primeira esquina o Vespão tomou a frente e acelerou pra Ruta 7. De fato adiante não havia protesto algum. Havia sim o Jorge Colman, esperando a gente num posto de combustível com sua Vespa Sprint Veloce e o meu pneu na mão. Obrigado Mr.Colman!! Ali nos demoramos por quase uma hora. Rafael Assef, que acordava um pouco tarde em Campo Mourão (PR), estava perto de Foz do Iguaçú, e torcíamos para que ele nos alcançasse. Digitei no celular as instruções do Vespaparazzi e partimos na ventania que levantava a poeira das fazendas, dobramos à esquerda no início da Ruta 6, na pequena Minga Guazú. A estrada nos levaria, pelas próximas 6 horas, até a cidade de Encarnación, extremo sul do Paraguay.
Já nos primeiros quilômetros o Jorge Colman firmou uma velocidade própria e ficou nela: 65km/h. Seu receio era que o pistão travasse ou que grudasse o platinado. Respeitamos o seu ritmo e assim desfrutamos mais do visual pela frente. Inacreditável foi passar por uma imensa plantação de girassóis. Mais lúdico ainda foi o túnel de arvoredo próximo à cidade de Santa Rita. Nessa cidade paramos pro almoço, e nos sentimos no Brasil, muito por causa da culinária mesmo. Fui entender depois. O dono do restaurante era catarinense, e a cidade é reconhecida também pela quantidade de imigrantes brasileiros que compraram casas por lá. Estávamos no Departamento do Alto Paraná. A família do Colman, que nos acompanhava numa pick-up de apoio, fizeram toda a questão de nos pagar o almoço. Era uma gentileza multiplicada por meia dúzia de barrigudos. Os Colman são gente do melhor tipo. É uma honra ser tão bem recebido em outro país. É um bom sinal também. Agradecidos e bem alimentados seguimos satisfeitos, na tocada máxima dos 70km/h, administrando por mímica e setas o domínio da pista diante dos carros e caminhões. Quanto as motos, com elas não era preciso, o pessoal enrolava o cabo pelo acostamento mesmo, acelerando contra o vento, sem capacete (ou documento). Doctor Juan León Mallorquin é o nome da Ruta 6.
Passamos por uma cidadela chamada Naranjal, ela me lembrou um pouco do oeste paulista antigamente, com seus muros baixos, quarteirões planos e jovens de mobilete ensurdecendo a vizinhança. Acho que foi em San Rafael del Paraná que fizemos uma parada para combustível. Era o início do Departamento de Itapúa, conhecido como o "el granero del país", aonde a agricultura da soja, do milho e do arroz predomina. O campo estava bonito de se ver.
Achei interessante que em algumas propriedades os trabalhadores ergueram suas casas às margens da cerca, o que por ventura propiciava às famílias montarem pequenos comércios, como borracharias, sucos naturais, salames em promoção, sacos de laranja, utensílios de cozinha etc. Era 15h30 e o sol não dava tréguas. E foi nessas que o motor da Sprint do Colman travou, a 70km/h. Rapidamente ele puxou a embreagem e parou no acostamento. Enquanto a gente esperava o seu motor esfriar, do norte vinha mais um vespista, o Jose Rotela, que na verdade vinha da capital, trazendo a sua Sprint Veloce rebocada no carango. Bela ragazza!! Pronto, já era o segundo vespista paraguaio e a segunda Sprint Veloce com a gente. É um bom sinal também. Voltei pro motor do Colman, e pelo buraco da vela injetei WD no cilindro, e passo a passo destravei seu motor. Dali em diante isso não se repetiria.
A viagem estava gostosa, no ritmo rodoviário dos Radunos da Primavera. E enquanto revezávamos a formação do grupo, Diego tomava diversas partes da pista para que o João se redobrasse nos takes pela janela. Os caminhões pesavam, até porque, em alguns momentos, sem muitas opções de ultrapassagem, cresciam em nossas costas. Ficávamos no centro de um eclipse. A gente se comunicava o tempo todo com eles com setas e sinais, e buscávamos o acostamento sempre que possível, abrindo passagem para a fila represada atrás de nós. Hernán e Colman revezavam-se nas filmagens com a Go-Pro no peito. Vespaparazzi despertava a curiosidade e a simpatia de todos por onde passava. E no clima da viagem, revezávamos rapidamente a formação, dançávamos pelo asfalto todo e fazíamos os takes mais arriscados quando a pista abria. A gente parou para abastecer numa cidade chamada Edelira e um frentista lá me contou um pouco sobre a expressiva imigração alemã para a região durante as grandes guerras. "Vene Quá", chamou o "soldado" Vespaparazzi para um beijo na boca do frentista. Os caras se mijavam de rir. Às 17h30 fazíamos a última parada geral, na cidade de Bella Vista. Estávamos a 50kms de Encarnación. Vespão roubava a cena no Paraguay, e dessa vez um grupo de uma dúzia de adolescentes veio pedir uma foto com a gente. "dia divertido, tivemos uma especie de cheerleaders (que isso novinha!) da expedição!", escreveu o Hernán. Então prosseguimos vendo o sol cair como areia na ampulheta. Depois de Trinindad a ansiedade aumentava, e às 19h finalmente estávamos em Encarnación. Abastecemos as Vespas, arrumamos as coisas e partimos, mascarados na noite paraguaia, na ordem da foto abaixo: Huracan Ramirez, Psicoprata, Caveira A Lenda do Trevo e Pistoleiro Paraguayo com o Esqueleto Brasileiro na garupa. E numa noite de calor e boa onda, a cidade de Encarnación parou para ver acontecer o I Encuentro Internacional de Vespas en Paraguay (evento associado ao XV Encuentro Internacional de Vespa Clubs). Tema do dia: Mi Oracion Azul - Herminio Gimenez.
Relato por Marcio Fidelis
Fotos por Fidelis e João Unzer
Fotos por Fidelis e João Unzer
2 comentários:
HAHAHAHHAHA QUE FIGURASSAS. PIREI NOS NOMES MEXICANOS.
PJ LAMMY
supreme shirt
supreme sweatshirt
kobe shoes
steph curry shoes
supreme outlet
jordan 11
curry shoes
birkin bag
cheap jordans
golden goose
Postar um comentário